quarta-feira, abril 19, 2006

PORANDUBAS



Por mais que me esforçasse em encontrar um assunto capaz de povoar todo o artigo que vocês estão prestes a ler, não consegui.

Não sei se estou particularmente inepto para escolher o tema, nessa semana, ou se os temas, de tão corriqueiros, já não me enchem mais os olhos.

Falar dos distúrbios da França com a Lei que regulamentava o primeiro emprego ? Acho que já temos mais do que o suficiente para nos preocuparmos por aqui... Falar das ameaças bélicas dos EUA contra Irã...dos intermináveis atentados e represálias entre Israel e Palestina....da queda do Berlusconi...da descoberta de que o primeiro astronauta brasileiro não era na verdade o primeiro astronauta brasileiro....de que o Mar Morto finalmente vai morrer em pouco mais do que 50 anos....tudo isso me parece tão distante (embora na verdade não seja).

Mas sobra-nos nossa boa e velha política, um eterno acusar e defender. Vestidos do Alkmim, ops, da Lú Alkmim, contas secretas do Okamoto, compadres que não querem ir à CPI, desmoralização de parlamentares, indiciamento de congressistas e ex-Ministros pela formação de quadrilha (as festas juninas nem começaram). Pensando melhor, estou meio nauseado para tratar disso também.

Talvez uma abordagem mais jurídica do momento seja adequada, afinal esse blogueiro é advogado, formado há 24 anos (putz....tudo isso ? Meu Deus). Morreu Miguel Reali, grande jurista e filósofo de nosso tempo. E enquanto Miguel Reali morria, Gil Rugai era colocado em liberdade, Maluf teve confirmada a decisão de que não terá que devolver os fuscas doados com nosso dinheiro, a Varig não teve sua falência decretada, e o dano moral do caseiro está orçado em 17,5 milhões de reais.

Pensando bem, à míngua de assuntos mais chocantes, talvez eu devesse tratar mesmo de assuntos mais prosaicos, ainda que superficialmente, para levantar a bola para os arremates dos colegas que apreciam esse papo virtual.

Li outro dia no Blog de uma amiga (Conto meus Contos) um artigo sobre o tempo. Dizia a amiga escritora que tinha a impressão de que o tempo estava passando rápido demais. Nem lembro bem o teor do meu comentário, mas parece que eu disse que está passando mais rápido mesmo, não é impressão. Há um estudo recente (putz, não me perguntem a fonte) que afirma que a vibração da Terra (Gaia) sempre foi a mesma de todos os seres vivos (um pulsar Mãe). E por alguma razão que não se sabe ao certo qual é, esse pulsar acelerou-se. O incrível é que todos os seres vivos também passaram a vibrar na mesma freqüência alterada.

Isso significa, segundo as contas e demonstrações científicas, que o dia, ainda que nominalmente tenha 24 horas, não tem mais todo esse tempo todo (não deve passar de umas 19 horas pelos padrões anteriores)....daí a impressão de tempo passando mais rápido.


Se é balela ou não....falta-me preparo para discordar.

Mas devo concordar que há um sentido de urgência em tudo, ultimamente...

Será que Gaia está nos preparando para alguma coisa que está por vir ?

Ou será que preciso dormir um pouco mais e parar de tomar esse chazinho meio esquisito ?

Opinem....porque se chegaram até aqui, já perderam alguns preciosos minutos de seu tempo...e como já dizia uma famosa camiseta do Fernando Collor de Marshmellow, “o tempo é o senhor da razão”.
Daniel Bykoff, co-responsável por esse Blog, anda meio xarope, tanto que promete um poema para a próxima postagem, atendendo aos incentivos da galera.

terça-feira, abril 11, 2006

COISAS...



Coisa 1

Fato raro: mãe de aluno em escola pública da periferia. Presenciei este fato raríssimo e passo aos nossos 3 ou 4 leitores ( obrigado!!!) o que ocorreu – e creio que algumas reflexões surgirão.

Pois bem, a mãe foi à escola não para acompanhar o ano letivo ou os estudos do filho; Foi para reclamar seus “direitchos” de bolsa-família que não estava recebendo. A mulher foi à escola acompanhada de uma filha pequena ( uns 5 ou 6 anos) e outra, bebê ainda, no colo.

Em dado momento, com dificuldades com o bebê e já nervosa com os rumos da conversa na secretaria ( além do fato do bebê estar vivo, talvez) chama a filha pequena e entrega a criança, com raiva:

- Segura essa coisa aí!

O problema não são as crianças jogadas no lixo deste país todos os dias; O problema é que várias crianças já estão na sarjeta mesmo antes de nascer. Crianças que se desenvolvem em ambientes tão agressivos, sem carinho, sem amor e respeito tendem a reproduzir futuramente todas as frustrações e maus tratos que sofrem diariamente.

Só um toquezinho: alguém pode chegar e dizer que tudo isso se resolve com educação. Ocorre, porém, que logo vinculam educação somente à escola. Quando na verdade educação é dever do estado, da família e da escola. Se deixarmos a COISA solta como está, a COISA vai ficar feia...se já não está.

Coisa 2

Suzanne Von Richtoffen não me convencera com aquelas pseudo lágrimas crocodilo. E achei que não convenceu a ninguém que assistira ao Fantástico (que às vezes deixa de ser “Cansástico”). Logo, todos souberam que tratava-se de uma orientação do advogado da assassina para tentar passar ao público a imagem “sofrida” e de “pobrezinha que sofre e está arrependida”.

Sobre a atuação do advogado da assassina, deixo a análise a cargo do meu partner campeão paulista 2006, o Dr. Daniel Bykoff. Quero tecer outro tipo de comentário, não na esfera jurídica da qual, confesso, sou um completo ignorante.

Mais uma vez temos um caso de manipulação e criação de imagem. Vivemos cada vez mais em um mundo manipulado. As figuras dos assessores de imprensa e do marqueteiro tornam-se imperativas para qualquer “personalidade”. A assassina Suzanne é uma celebridade, queiram ou não. Apareceu na TV é famoso ou famosa, nem que sejam por 15 minutos. De modo que essas pessoas necessitam passar uma imagem que cause uma reação ao público: o jogador de futebol bonzinho, humanitário, que doa cestas básicas às criancinhas do orfanato; A cantora de axé que empresta sua imagem a instituições como UNICEF e ONG’s; Artistas de telenovelas que estão sempre felizes, sorridentes, maquiados e “fashioned”* nas revistas de fofocas semanais.

Em relação a Suzanne, a Globo agiu como a “justiceira” da vez e, aliada à péssima interpretação da assassina, a justiça brasileira prendeu a moça novamente. Ficam aqui dois pontos:

1 – O poder que a TV exerce não apenas sobre as pessoas, mas sobre todos os aspectos da sociedade. Não fosse a “isca” montada, a assassina convenceria milhares de pessoas que estaria “arrependida e solitária”; Por outro lado, é impressionante como aquela máxima “apareceu na Globo, é verdade” ainda continua influenciando. Mas não só a Globo: na verdade a mídia televisiva utiliza o poder das imagens para conseguir o decantando “ibope” e que se dane ética – alguém lembra da “entrevista” dos membros do PCC ao Gugu? Farsa grotesca e que não apenas seria passível de prisão como também de extinção do programa “Domingo Legal”, que continua até hoje com níveis de “ibope” respeitáveis. E por que? Porque o apresentador Augusto Liberato trabalha sua imagem de bom moço. Até chora na TV. Chorou na TV, o brasileiro se derrete todo.

2 – E o que nós temos, hoje? Programas de TV’s e rádios com verdadeiros “justiceiros” que recebem todo o tipo de “denúncias” e os “justiceiros” supostamente encaminhariam para as “otoridades competentes”. Como o poder público não resolve nada e Jesus Cristo pelo visto vai demorar mais um tempo para voltar, as pessoas recorrem aos “justiceiros da mídia” para que de alguma forma seus problemas sejam resolvidos. Além dos tais “justiceiros”, temos as “psicólogas” de TV. Pessoas comuns que se submetem aos delírios de apresentadoras com um olho no merchandising de câmeras digitais e produtos para ginástica em casa e outro olho no tal aparelhinho do “ibope”.

Não deixa de ser uma busca por parte destas pessoas ditas “comuns” por um pouco de visibilidade, por um pouco de atenção. Mas quem aproveita mesmo esse anseio pela visibilidade e carência é aquela categoria que melhor trabalha a imagem: os políticos. São mestres nesse aspecto. Político sério, honesto, trabalhador e experiente vai surgir a granel nestas eleições.

E nem é necessário plano de governo: basta uma bela imagem com as características acima e pronto. Brasileiro fica comovido com duas coisas na TV: chororô ( por isso a câmera dá um close nos olhos marejados de gente que chora) e musiquinha mezzo triste mezzo melosa com alguém bem representante do povo “com cara de esperança” em câmera lenta.

Aí até a Suzanne chora. E de verdade.

Jaime Guimarães já foi manipulado aos 7 anos de idade por musiquinhas bonitinhas de polítcos: musiquinhas de Francisco Rossi para prefeito e Orestes Quércia ( “o sol nasceu pra todos e também para você/ vote Quércia/ vote Quércia/ PMDB”) fizeram com que intercedesse ao pai e a mãe para votarem nos ditos cujos. Ainda bem que não deram atenção à criança.

terça-feira, abril 04, 2006

O CAMINHO DE SANTIAGO





Considero-me um leitor atento, cri-cri mesmo. Talvez de tão ávido por matéria prima para este Blog de mal digitadas linhas.

Mas, enfim, sempre atento, parece que as coisas acontecem realmente para provocar nossa reflexão.

Um desses acontecimentos foi a manchete da semana passada ou retrasada que li no Universo Online – depois corrigida: ANTÁRTICA 2 GRAUS MAIS QUENTE !!!!

Uma verdadeira catástrofe mesmo....para os apreciadores dessa marca da cerveja.

Mas a notícia dizia respeito ao aquecimento do Planeta, ao famoso derretimento da “carlota polar” (essa retirada do ENEM nem sei de quando).

É ! Ainda que o tema central não seja propriamente o exercício do bom jornalismo, ele vai resvalar no despreparo geral que temos testemunhado, com o emburrecimento social e, por via de conseqüência, dos próprios órgãos de comunicação que pretendem informar a essa legião cada dia mais sedenta de “fast news”, no melhor espírito “fast food”.

Não interessa a notícia em si, com princípio, meio e fim. Interessa quando muito saber dos fatos, e mesmo que superficialmente, porque ninguém vai nos perguntar algo mais profundo do que: “Puxa, mas é verdade mesmo ?”. Porque mesmo para perguntar alguma coisa o cara tem que ter preparo.

Eu conto uma coisa há muito tempo para meus amigos, e eles relutam em acreditar....vou tentar com vocês:

Nem sei bem o ano, mas já faz tempo. No ABC paulista existe um jornal chamado Diário do Grande ABC. Circula todo dia, tem todas as editorias, replica textos de outros jornais famosos, etc.

No Caderno Cultura, uma página com retrancas, boxes, infográficos (não, brincadeira, infográfico é coisa da Folha de São Paulo): uma matéria de página inteira, calcada na obra do Paulo Coelho, O Caminho de Santiago.

Havia uma entrevista, com uma jovem, fotografada com o livro na mão. Ela dizia que foi levada a fazer o caminho de Santiago por ter lido o livro. Ficou encantada, fascinada e obcecada por fazer o caminho o quanto antes.

Agora lembrei de mais um box: informações sobre a obra do Paulo Coelho e tudo mais, com os livros publicados, ano, tiragem, etc.

Voltando à jovem, ele falava da realização do seu sonho de fazer o tal caminho. O repórter com suas perguntas inteligentes, etc.

E eu fui lendo, evidentemente não nessa ordem que estou narrando aqui, porque senão o final iria perder a graça.

Um outro Box com preços das passagens e roteiros. E a menina feliz por ter conseguido a grana para fazer a sua viagem, coim muito sacrifício. E aí o grande clímax, verdadeiro furo de reportagem: é possível fazer o caminho de ônibus !!! Isso mesmo meus amigos...

Sai da rodoviária do Tietê, não sei se diariamente, ou quais os dias, um ônibus que chega a Santiago, através de conexões, interconexões, etc.....

Ele chega ao CHILE !!!

Já tiveram a sensação desagradável de sentirem-se envergonhados com as burradas dos outros, ao assistir um filme, novela ou qualquer coisa na TV ? Pois é....fiquei com a sensação de que tinha perdido o chão...

Aquela pobre menina estava fazendo seu caminho de Santiago para o Chile !!!

Até aí tudo bem...porque talvez a jovem realmente viesse a curtir o caminho de Santiago que estava prestes a fazer....talvez encontrasse sua cara metade (se tivesse lido Brida), talvez até encontrasse sua vocação (caso tivesse lido O Alquimista).....

Mas a “barriga” do jornalista, do revisor, do editor de cultura e do próprio editor geral do jornal, que deixaram uma matéria dessas, de página inteira, ser publicada, não me sai da cabeça até hoje, passados seguramente uns 10 anos do acontecido.

Tanto não me sai da cabeça, que foi só ler a manchete da Antártica não tão gelada, que a coisa me voltou à mente.

Por onde andará a peregrina do Chile ? Que fim terá levado o jornalista ? Em qual posição estará agora o editor de Cultura do jornal ?

E porque raio estamos falando sobre isso ?

Talvez para provocar reflexões e troca de informação ? Quem sabe !? Veremos nos comentários....

Mas que é verdade, isso é mesmo....ainda que ninguém acredite (nem minha esposa)

Daniel Bykoff, co-responsável por este Blog, não conhece o Santiago, nunca procurou o seu caminho e não está afins.