Carnaval: a festa, o vale-tudo, 01 semana de utopia
Matta, Roberto da. “O que faz o brasil, Brasil?”. Rio de Janeiro: Rocco, 2001. p.73
Sai o uniforme, entra a fantasia; Saem 08 horas de trabalho, entram 08 horas atrás do trio elétrico, do frevo, das escolas de samba. Tudo pelo prazer, tudo pela sensação de liberdade que a maior festa popular do mundo oferece.
Neste mundo de prazer e alegria, todos os outros assuntos ficam em segundo plano. Sob a justificativa do bordão “É carnaval!”, fatos importantes ou relevantes são deixados de lado. Ou mesmo o que acontece ao lado do folião é desprezado, esquecido.
O carnaval de Salvador recebe o título de “maior festa com participação popular do mundo”. Este ano, estima-se, são 2 milhões de foliões atrás dos trios elétricos de seus artistas preferidos ou não. Mas o Carnaval por estes lados está menos soteropolitano e mais “pra inglês ver”. Ou irlandês. O antigo folião pipoca, aquele que não saía em blocos com abadas ou não comprava seu acesso a camarotes, está em vias de extinção. O espaço para a “pipoca” foi loteado: no carnaval baiano, agora, só com abada ou camarote. Ainda há a participação popular nos blocos menores, mas estes não saem durante o Jornal Nacional, por exemplo. Outro aspecto que merece atenção é a violência policial utilizada, claro, nos “ppp’s”: Pretos, pobres, periféricos. Assistindo a cobertura do Carnaval pela TV tudo é muito bonito e democrático. E é só festa e alegria.
Bebês encontrados no lixo e em lagoas, exploração sexual de crianças e adolescentes que aumenta durante este período, hospitais lotados com pacientes que extrapolam na festa e arrumam confusões ou por bebedeira, acidentes de trânsito que a cada ano batem recordes, tanto nas cidades como nas estradas... Todos estes assuntos são relegados a segundo, terceiro plano. O negócio é a folia, a festa, o vale-tudo, a todo e qualquer custo... Mesmo que o custo seja um abadá comprado por 3 mil reais ou o aluguel de uma quitinete por módicos 4 mil reais por 4 dias.
Não pretendo tornar este texto algo negativista ou conservador. Não é a intenção. Carnaval é mesmo uma grande festa e há diversão para todo gosto e bolso. Mas viver 1 semana distante do “mundo chato e uniforme” também não é boa idéia: Mais um bebê é encontrado no lixo em SP. Mesmo com toda as festividades ocorrendo no país, não dá pra desprezar isso.
Ou já é coisa banal?