Oh, my god...

Tenebroso o caso da estagiária que encomendou o assassinato de duas colegas da empresa para, desta forma, ocupar um cargo efetivo. Seria essa mais uma conseqüência do capitalismo e da sociedade contemporânea, que estimula a concorrência e tem lema “os fins justificam os meios”?

Mas não é sobre isso que vou refletir. Assistindo às reportagens na TV sobre o caso, inclusive com imagens da tal estagiária e dos comparsas, observei que a criminosa vestia uma camisa com uma estampa com o nome impresso em letras graúdas de “Jesus”. A seguir, quando um dos comparsas foi apresentado, no braço via-se uma tatuagem do rosto de Jesus. Pelo visto, a dupla é bem religiosa.

Numa destas madrugadas de insônia, ligo a TV e vejo a programação das emissoras abertas. O reino de Deus está próximo, mas se você não gostar daquele modelo, basta mudar de canal que aparecerá outro reino divino, ainda mais promissor que o anterior. Tem pra todo gosto: pregações intensas, depoimentos emocionantes, sessões de exorcismo, shows musicais que beiram à megalomania, “interpretações” bíblicas e por aí vai.

Os meus programas preferidos são aqueles da Igreja Universal, onde são exibidos pequenos filmes dos quais sempre tem como temática uma situação que os pastores chamam de “sintomas de possessão demoníaca”: dores de cabeça, depressão, problemas financeiros, no emprego, em família, etc. A trilha sonora é bárbara e não deve nada a grandes clássicos do cinema como “O Exorcista” e os primeiros filmes da série “A hora do pesadelo”.

Mudo de canal e vejo uma pregadora que possui a simpática alcunha de “bispa”. Interessante é que esta figura é onipresente na emissora: além de pregar, interpretar a Bíblia, entrevistar e orar, ainda canta, dança e agita em shows com estádios lotados e de super produção.

Nos outros canais são as igrejas menores, mas igualmente divertidas: tem uma aqui em Salvador cujo pastor pede, a cada minuto, doações para “manter este programa no ar”; Outro sai pelas ruas num mini-trio elétrico e pedia uma “ajuda” para consertarem o motor do caminhãozinho. Sensacional.

Mas o que isso tudo tem a ver com o caso da estagiária citado logo no início? Ora, não é de hoje que a religião e o “nome” de Deus são usados para justificar massacres em guerras e manifestações de intolerância. Nestes tempos contemporâneos, Deus tem uma função muito mais atrativa do que oferecer paz de espírito: promover riqueza e conforto material.
Isso já foi minuciosamente estudado por Max Weber em “Ética Protestante e Capitalismo” no século XIX. Hoje, porém, com o consumismo na ordem do dia, quando Jesus Cristo é substituído pelo Papai Noel e pelo Coelhinho da Páscoa, as pessoas procuram um sentido para a vida baseada em bens materiais, o que difere bastante daquilo que Cristo tentou ensinar. Um traço comum que pude observar durante estes programas na madrugada nas TV’s foi a tentativa em sensibilizar os fiéis a pedirem tudo (mas tudo, mesmo, desde aquele apartamento de luxo ao muro caído com a última enchente que precisa ser arrumado) a Deus e logo depois aparecer um número de conta corrente no vídeo.

Pelo visto a tal estagiária poderia encaixar-se neste grupo de fiéis que ouviam palestras e mais palestras de pastores e assistia a testemunhos de “gente que deu certo graças a Deus”. Ou talvez usou a camisa louvando Jesus apenas para tentar sensibilizar a opinião pública. Vai saber.

Escolheu o pior caminho. Seria melhor esforçar-se para chegar a tornar-se “bispa”. Mas isso demora muito. Como também demora pra tal vida eterna. O negócio é o agora, já, neste momento. E Jesus prometeu há 2000 anos que voltaria. É melhor ele se apressar antes que surjam mais e mais igrejas cada uma com sua “verdade”.

Jaime Guimarães, co-autor (ghost) deste blog, ex-protestante,ex-católico,ex-catológico,ex-coroinha,ex-telionatário, tem o sonho de fundar uma igreja na garagem de casa.