domingo, outubro 02, 2005

ARMAS: SIM OU NÃO ?

Texto inaugural é sempre uma grande responsabilidade. Mais ainda quando tantos assuntos “momentosos” nos forçam a um juízo de valor. Seja na política, catástrofes climáticas, exaurimento do planeta, violência, etc, somos bombardeados com notícias que merecem reflexão mais profunda. É o legado que herdamos de nossos pais e é esse legado que nos cabe passar para nossos filhos, melhor ou pior do que o recebemos. As linhas que escrevemos hoje serão história, algum dia. Seremos os mocinhos ou vilões? Aqueles que acabaram com tudo ou aqueles que salvaram alguma coisa?

Tendo isso em conta, decidi falar um pouco do referendo sobre a proibição de armas.

Em breve seremos convidados a dizer se somos a favor ou contra a proibição de venda de armas de fogo. Podem apostar que até lá seremos “bombardeados” com propaganda de “grosso calibre” de lado a lado. Surgirão estatísticas, estudos comparativos, opiniões de especialistas, de vítimas de violência, de Comissões de Direitos Humanos, de Igreja, de ONGs...enfim, seremos convidados a pensar e escolher.

Independentemente da impropriedade da pergunta (ser a favor da proibição é o mesmo que ser a favor do contra), gostaria de propor uma reflexão, que certamente não será abordada nas propagandas de TV e Rádio. Ela tem a ver com nossa “programação”.

Se me perguntam “você é favor de alguma coisa ?”, intuitivamente me vem à mente a pergunta “você faria isso ?”. Por isso, quando o referendo me pergunta se sou a favor da proibição da venda de armas, me pergunto se eu usaria uma arma de fogo como forma de defesa contra a violência. Minha resposta é não: não compraria e não usaria uma arma de fogo. Só que essa resposta não exaure a pergunta: não perguntaram de mim, mas se eu acho que devemos proibir ou não para todo mundo. Aí a resposta já não é minha, porque não posso querer impor minha vontade sobre o livre arbítrio de ninguém.

Apesar disso, à mingua de outras opções, vou responder sim ao referendo, embora reconheça que não é minha vontade que pode impor-se à vontade de alguém que queira se armar.

Posso apenas dizer que, ao comprar uma arma para defender-se, o sujeito está “programando” em si um risco que poderia jamais existir (tanto que a maior parte das pessoas não foi assaltada, assassinada ou viveu situação de risco). E as coisas acontecem na nossa vida segundo essas programações que nós próprios fazemos. Alguém que vive dizendo que é muito difícil encontrar emprego, certamente terá mais dificuldade em encontrá-lo; alguém que diz que é um mala e não tem amigos, certamente os afasta; alguém que diz que não tem sorte no amor terá menor chance de vivê-lo.

E, nessa trilha, alguém que supõe precisar de uma arma para defender-se, pode realmente deparar-se com uma situação limite, na qual ela seja necessária. Eu prefiro acreditar que não precisarei de armas. Nunca !
Daniel Bykoff, é advogado, pacifista convicto e co-responsável por este Blog.